Corria o ano de 1975 em Birmigham, Inglaterra, quando três jovens do bairro negro de Handsworth, descendentes de imigrantes jamaicanos, resolveram canalizar suas energias e frustrações para a música, formando uma banda que viria se tornar uma das mais queridas e respeitadas entre os regueiros do mundo todo, o Steel Pulse. O trio era formado pelo baixista Ronald McQueen e pelos guitarristas Basil Gabbidon e David Hinds, que descreveu a situação da época: "Havia seguidas confrontações da polícia com os jovens da comunidade. Havia um sistema educacional decadente e uma alta taxa de desemprego, então nós precisavamos de alguma coisa para manter nosso espírito elevado e conscientes do que era feito com os negros enquanto minoria na Inglaterra. Daí nós fomos para a música".
A eles logo se juntariam o tecladista Selwyn Brown, o baterista Steve Nisbett, o percussionista Phonso Martin e o cantor Michael Riley. Durante três anos eles ensaiaram e batalharam shows, fazendo covers de Burning Spear, Gladiators e Bob Marley. Uma das maiores dificuldades era arrumar lugar para tocar, porque até mesmo os clubes negros fechavam suas portas para eles, com medo de terem problemas por causa da má fama dos rastas. Ironicamente, as melhores chances para a banda vieram com o movimento punk, que na época abalava as estruturas da indústria musical e da própria sociedade inglesa. Em meio a shows com algumas bandas da época, como Clash, XTC, Police, Stranglers, o Steel Pulse encontrou espaço para passar sua veemente mensagem anti-establishment aos skinheads e punks, que adoravam a banda. David Hinds atribui à troca de experiências com aquelas bandas o fato do Steel Pulse ser tão perfeccionista e profissional quanto possível nas suas criações.
A força dos shows e o relativo sucesso de três compactos bancados pela banda levou-os a assinar contrato em 78 com a poderosa Island Records, gravadora que reunia então a nata dos artistas de reggae, como Bob Marley, Gregory Isaacs, Burning Spear, Lee Perry, U Roy, entre outros. Foi aí que eles se encontraram com o engenheiro e produtor jamaicano Karl Pitterson, que tinha um certo nome devido aos trabalhos que fizera com Bob, Peter Tosh e Bunny Wailer. A química que se estabeleceu entre as partes funcionou perfeitamente, com os dois primeiros discos lançados, Handsworth Revolution e Tribut to the Martyrs, consagrando o Steel Pulse como uma banda do primeiro escalão do reggae. Mas ainda havia mais.
O Steel Pulse foi para a América no rastro da invasão do punk rock no final da década de 70. David Hinds relembra: "Antes de deixar a Inglaterra, nós fomos chamados pela Island. 'Por que vocês querem ir para a América? Ninguém conhece vocês...vocês vão estar perdendo seu tempo'. (...) Nós viemos para os Estados Unidos quase como pobres. Viemos sem saber que todo mundo conhecia o Steel Pulse, estavamos preparados para enfrentar isso. E nosso primeiro show foi num lugar chamado Mud Club, em Manhattan. Nós pensamos 'Yeah, vamos tocar aqui e deve vir um punhado de gente e depois que tocarmos em outros clubes, provavelmente teremos um pequeno retorno'. E o lugar explodiu, man, nós não conseguíamos acreditar". Em 81 o grupo foi a grande atração do Sunsplash, que naquele ano homenageou Bob Marley, falecido pouco antes. O sucesso da apresentação rendeu um contrato com a Elektra, e o disco True Democracy, lançado em 82, foi aclamado pela crítica e pelo público. Foi a consagração e o auge do Steel Pulse como um nome de primeira linha na cena reggae mundial, mas também marcou o fim da formação original e da proposta musical que o grupo vinha seguindo.
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