Sidney Miller

Sidney Miller

MPB

Sidney Álvaro Miller Filho era membro de uma geração privilegiada, em termos de criação musical: nascido em 18/04/1945, foi contemporâneo de Chico Buarque, Caetano, Gil, Edu Lobo etc.: uma turma que apontaria para uma nova estética, e, mesmo, uma nova maneira de se encarar o fazer música no Brasil. Em tempos obscuros politicamente, ousaram acender fósforos que tentavam, pelo menos, quebrar a onipresença das trevas.

Sidney não era um iconoclasta como Caetano: em termos de música, estaria mais próximo de Chico, fazendo uma ponte entre um novo olhar e a herança musical e poética em seu sangue. Sua estréia fonográfica, em 1962 ? o samba Queixa ? , uma parceria com Zé Keti e Paulo Tiago, foi defendida por nada mais, nada menos, que o decano Cyro Monteiro. Foi o início de uma série de grandes composições, que pontilharam a Era dos Festivais de uma beleza melancólica, filosófica mesmo, que contrastava com a pirotecnia de certos artistas da época. Suas letras quilométricas (como na belíssima A estrada e o violeiro, que levou o prêmio de melhor letra no 3° Festival da Record) eram, mesmo, épicos existenciais, um retorno a uma era em que o prazer de se contar uma boa história se mesclava à reflexão sobre a natureza da mesma.

Um de seus clássicos, O circo (?Vai, vai, vai, começar a brincadeira/ Tem charanga tocando a noite inteira?) opera com o mecanismo dos contos de fada, buscando, no aparentemente ingênuo, toda uma série de arquétipos do ser humano, como o palhaço ?que na vida já foi tudo?, e que ?sem juízo fez feliz a todo mundo, mas no fundo não sabia que em seu rosto coloria todo o encanto do sorriso que seu povo não sorria.? Uma metáfora perfeita para a própria condição do artista criador.

Outras maravilhas podem ser citadas, como o samba Pede passagem, verdadeiro louvor ao ato de resistir às intempéries e seguir vivendo, e que se encerra com os versos: ?Vai balança a bandeira colorida/ Pede passagem pra viver a vida?. Aparentemente, uma contradição em relação ao fim que escolheu.

Gravou, ele mesmo, apenas três discos. Mas intérpretes do estofo de Nara Leão (sua musa), Clara Nunes, Quarteto em Cy e Caetano, entre muitos, se renderam à beleza triste de suas composições. Um dia, contudo, a tristeza sobrepujou a beleza e Sidney, por motivos até hoje obscuros, optou por acabar com sua vida, e, conseqüentemente, com sua obra. Read more on Last.fm. User-contributed text is available under the Creative Commons By-SA License; additional terms may apply.