Luiz Carlos dos Santos é um nome bastante comum no Brasil. Mas, um daqueles que se chama Luiz Carlos dos Santos tinha um dom que o faria se destacar dos outros, sua criatividade e capacidade de mesclar o que parecia impossível. Esse Luiz Carlos nasceu no morro do Estácio (que será uma das suas principais fontes de inspiração). Único filho homem de seu Oswaldo, um trabalhador do cais e dona Eurídice, costureira de mão cheia, teve uma infância semelhante a tantos outros meninos do morro, queria jogar futebol, mas a necessidade de trabalhar não lhe deu oportunidades de mostrar suas habilidades com a bola. Abandonou a escola no curso ginasial, e tocava violão, acompanhando seu pai, nos cultos da igreja batista, que a familia frequentava e nos regionais onde seu pai ganhou o sobrenome artístico de Melodia. Viveu a adolescência no final dos anos 60, ouvindo Ismael Silva, Geraldo Pereira, Noel Rosa, mas também, a Jovem Guarda, Chico Buarque e Jorge Ben. Foi nessa época que criou, com amigos do morro, o grupo "Os Instantâneos", que tinha uma postura diferente dos padrões vigentes, recusavam-se a compor e tocar apenas samba. Começou sua carreira de sucessos, logo após sair do Exército, quando os compositores Torquato Neto e Waly Salomão o ouviram cantando sua música "Pérola Negra", e a mostraram a Gal Costa, que a gravou em seu álbum "Gal a Todo Vapor", em 1972. A partir de então, ficou conhecido como LUIZ MELODIA, assumindo o sobrenome artístico do pai, sofisticado e ao mesmo tempo explosivo, elegante e ao mesmo tempo incomum, um dos mais representativos, dentre os cantores e compositores da música popular brasileira. Melodia lança, em 1973, o álbum que levava o nome de seu maior sucesso, até então. Tres anos depois, surge Maravilhas Contemporâneas, sedimentando seu nome com o sucesso de "Juventude Transviada", que fazia parte da trilha sonora de Pecado Capital (uma novela da TV Globo). Nem tudo eram flores, no entanto. A crítica não aceitava que alguém houvesse descido o morro ousasse inovar, não apresentando aquilo que o morro sabia dar: o samba. Porém, a inquietude que funcionava como virtude, nesse momento, trabalhou contra e, Luiz Melodia decidiu ir para a Bahia, por as idéias em ordem e entender o que estava acontecendo. Ao voltar, em 1979, passa a morar na Gávea e lança seu terceiro trabalho Mico de Circo. À essa altura sua irreverência e a "mestiçagem" de ritmos musicais na sua obra, já eram marcas registradas e, se o ambiente fechado da mídia subserviente à ditadura militar dificultava a divulgação de suas músicas, Luiz Melodia já tinha o respeito dos outros compositores e intérpretes da MPB e o afeto do público.
Em 1980, é lançado Nós, contava com a participação de sua companheira Jane, num dueto, na faixa "Passarinho viu". Após este álbum, aconteceu um longo período de afastamento, com a produção de apenas dois trabalhos em 10 anos: Felino e Claro. Em 1986, Melodia é descoberto pelo público internacional, graças às suas apresentações no festival de jazz de Chateauvallon, na França, onde entusiasmou platéias. Em 1991, a fase de "hibernação" terminou com o lançamento de Pintando o Sete, que foi considerado antológico pela crítica (a mesma que o rotulou de maldito, alguns anos antes). Em 1995, mostra uma releitura de seu trabalho com Relíquias, onde novos arranjos para velhas músicas mostram a riqueza de possibilidades que seu trabalho carrega.
Em 1997, sai Decisão e, 14 Quilates, esses dois trabalhos trazendo um Luiz Melodia mais amadurecido, sem perder a criatividade do início da carreira. Sua obra merece ser chamada de popular, no verdadeiro sentido desta palavra, para Melodia jazz, samba, rock, funk, bossa-nova, xaxado, bolero, baião ou blues, é tudo música, e em qualquer destes estilos é possível se fazer boa música, desde que se tenha o dom. É por isso que considera Chet Baker como seu ídolo, Geraldo Pereira como o maior compositor e Asa Branca como a mais bonita composição de todos os tempos. Pelo mesmo motivo, tem suas composições gravadas por intérpretes de estilos tão díspares como Gal Costa, Maria Bethânia, Cidade Negra, Barão Vermelho, Skank, Ângela Maria, Dora Vergueiro, Itamar Assumpção e outros.
Mas Melodia não é apenas um grande compositor, suas interpretações de "A voz do Morro", de Zé Kéti, "Quase fui lhe procurar", de Getúlio Cortes (que foi sucesso com Roberto Carlos) e "Cordas de aço", de Cartola, o credenciam, também, como um ótimo intérprete.
Luiz Melodia em tournée nacional lançou seu Acústico em 2000, que se tornou seu primeiro disco a vender mais de 100 mil cópias, praticamente uma releitura de sua obra, com a visão de hoje, todo ele gravado ao vivo. E o novo disco, que começa ser gravado em janeiro e vai às lojas pela gravadora Indie Records, e deve contar com a participação especial de Elza Soares. Mais ainda, seu filho Mahal também deve cantar no CD, que vai abranger de bolero à rap e tem o nome provisório de Soul Brasileiro.
O cantor, compositor e músico carioca Luiz Carlos dos Santos, o Luiz Melodia, morreu no dia 04 de Agosto de 2017, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), aos 66 anos, em decorrência de complicações de um câncer que atacou a medula óssea. Melodia chegou a fazer um transplante de medula óssea e resistiu ao procedimento, mas não vinha respondendo bem à quimioterapia. O câncer voltou e o estado de saúde de Melodia se agravou bastante. O artista estava internado no hospital Quinta D'Or. Read more on Last.fm. User-contributed text is available under the Creative Commons By-SA License; additional terms may apply.