Nasci em Brasília, muito espaço , muito vazio, muita música. Ouvia compulsivamente música brasileira, Milton Nascimento, Chico Buarque, Elis Regina, Beto Guedes, Zé Ramalho, Secos e Molhados, Rita Lee, Caetano Veloso e Gil .Foram eles, basicamente, responsáveis pela minha formação musical. Ouvia também, desde menina, os fados de Amália Rodrigues, que me emocionavam muito, e os americanos Elvis e Frank Sinatra de quem meu pai é fã.
Comecei a estudar música algumas vezes, desde os dez anos, mas aos catorze anos entrei definitivamente para a Escola de Música de Bsb, para estudar flauta transversal.
Me encantei pela sonoridade de instrumentos até então distantes : trompas, trompetes, violinos, cellos, oboés, timbres que me arrebataram.
Entrei para a UnB, faculdade de música, mas antes de terminar o curso, me mudei para o Rio de Janeiro, para trabalhar com Oswaldo Montenegro em musicais. Nos dividíamos em diversas funções, canto, dança, iluminação, produção, aprendi muito.
A partir daí, meu interesse pelo teatro foi se intensificando, fui estudar com algumas pessoas que admirava e com as quais eu me identificava. Até então, não havia pensado em cantar profissionalmente, e curiosa-mente, foi no teatro que isso aconteceu.
Trabalhando com Luís Fernando Lobo na peça ?Cemitério dos Vivos?, fazíamos ao vivo uma música de Piazzolla, de voz e piano, era o momento que mais me dava prazer.
Depois deste trabalho, fui chamada por Moacyr Góes para participar da ?Trilogia Tebana? onde cantava, também ao vivo, músicas gregas. O trabalho de pesquisa para essas peças me colocou em contato com um outro universo musical, canções regionais, melodias simples e contundentes.
O próximo trabalho com Moacyr Góes foi ?Abelardo e Heloísa?, que teve toda a sua trilha feita por mim e por Sacha Amback e era, também, cantada ao vivo. Foi um trabalho muito interessante e que atingiu o público de uma maneira arrebatadora.
Resolvi, então, montar um trabalho solo, no final de 1996, sob a influência do que me tinha motivado a cantar. Resultou num show com excelente repercussão. Depois de uma temporada de quase tres meses, o selo Geléia Geral de Gilberto Gil e Celso Fonseca me contratou para gravar meu primeiro cd, produzido por Celso Fonseca. Foi um susto, tudo muito rápido, difícil prá mim, que não tinha experiência de estúdio, me encontrar naquele lugar. Mas o resultado foi bacana, colocamos a música Grama Verde, de Vítor Ramil e André Gomes, na novela das 19:00 hs, fizemos shows no Brasil e no exterior.
Meu segundo cd, foi produzido por Sacha Amback, e num movimento inverso ao anterior , este foi idealizado e concebido todo dentro do estúdio, ambiente que se tornou mais familiar prá mim. Escolhemos o repertório e a sonoridade com tempo e calma. O resultado é fiel à minha formação musical, às minhas escolhas, misturamos sons eletrônicos, percussão, cordas, a melodias bastante brasileiras. Partimos do que cada canção pedia, demos a nossa leitura, sem compromissos. Com mais maturidade, a minha interpretação e apropriação da expressão de compositores que admiro muito.
Poeira Leve, que está saindo agora pela Deckdisc, foi um disco que começou de uma idéia do Ramiro Musotto, produtor do disco, regravarmos sambas antigos. Foram várias noites de pesquisa ouvindo este material tão rico da nossa música. Difícil seleção. Eu, que a princípio tinha uma certa resistência a regravações, fui totalmente tomada pelas canções. Ficamos dez meses fazendo o disco. Contamos com as participações muito especiais de amigos muito talentosos, Celso Fonseca, Milton Guedes, Bernardo Bosísio, Vitor Ramil, Zeca Baleiro, Moraes Moreira, Moska, entre outros.Poeira Leve é um trabalho delicado, pensamos em fazer um disco calmo, quase um silêncio, as vozes são quase faladas, é um contraponto à nossa vida tão cheia de informações. Eu e Ramiro ficamos muito felizes com o resultado, foi, pra mim, um estudo maravilhoso.
Adriana Maciel Read more on Last.fm. User-contributed text is available under the Creative Commons By-SA License; additional terms may apply.